A atual situação dos produtores do RS

05, agosto, 2024
A atual situação dos produtores do RS

No mês de maio o Brasil acompanhou uma das maiores catástrofes causadas por elevados volumes de chuva em parte do estado do Rio Grande do Sul (RS). De acordo com a Defesa Civil do estado, 478 municípios foram afetados de alguma forma. Isso equivale a 96,17% das 497 cidades que compõem o estado gaúcho.

Após algumas semanas de índices pluviométricos elevados no estado, o Banco Central já observa sinais de retomada das atividades. Na cadeia agropecuária, há indícios de retorno das operações. Contudo, segundo Elenara Brum, Zootecnista e proprietária da JL Nutrição Animal, em Estrela/RS, o processo é bastante lento, condicionado às particularidades de cada realidade.

Na pecuária leiteira, o cenário é bastante desafiador, visto que as chuvas coincidiram com a época de semeadura e desenvolvimento das pastagens de inverno, como aveia e azevém. Em maio, os produtores estavam finalizando a colheita do milho para silagem, mas aproximadamente 20% das áreas ainda não haviam sido colhidas e foram afetadas, segundo Jaime Eduardo Ries, Zootecnista e Assistente Técnico Estadual da Emater/RS.

O Zootecnista também destaca que o impacto negativo sobre a produção de silagem e a formação e o desenvolvimento das pastagens de inverno, afetou praticamente todo o estado do Rio Grande do Sul, agravando uma situação que já era desfavorável.

Segundo Jaime, no período mais crítico, ocorrido na primeira semana de maio, estima-se que aproximadamente 9,5 milhões de litros de leite não puderam ser recolhidos nas propriedades. No restante do mês de maio, a produção diária de leite sofreu uma redução estimada em cerca de 15%, devido aos efeitos adversos das condições climáticas sobre as pastagens.

Marcos Tang, Presidente da Gadolando, comenta que o panorama deve ser avaliado conforme o grau de impacto sofrido. Alguns produtores das cidades do Vale do Taquari foram severamente afetados, com estruturas de confinamento comprometidas e uma estimativa de aproximadamente 2.451 vacas leiteiras perdidas. Em alguns casos, para os produtores que perderam tudo, o retorno à atividade dependerá de um prazo médio a longo. Outros produtores de diferentes regiões não perderam estruturas e animais, mas tiveram seus estoques de alimentos para o rebanho comprometidos.

Tang, que também é produtor de leite na cidade de Farroupilha/RS, relata que na sua propriedade todas as áreas de aveia e azevém que já haviam sido semeadas foram perdidas. “Isso implica um grande atraso para aqueles que conseguirão ressemear, caso tenham terras adequadas para isso, como é o meu caso, onde estou realizando a ressemeadura em todas as áreas. Esse cenário é observado na maior parte do estado, exceto em parte do Noroeste do RS. Na minha propriedade, havia cerca de 15 hectares de pastagens de inverno semeadas, mas atualmente não há nenhum hectare de pasto disponível para pastoreio, e já estamos em julho. Em outros anos, eu já teria essas áreas prontas no final de abril ou início de maio”. (Fonte: MilkPoint, 31 julho 2024)

O problema não é apenas com os gastos para ressemeadura, mas também com a aquisição de alimento. “Estamos enfrentando a situação com a compra de feno e pré-secado, o que eleva ainda mais o custo de produção. Precisamos de ajuda, mas muitos produtores enfrentarão essa situação com ou sem suporte”, comenta Marcos.

De acordo com Jaime, as propriedades situadas às margens dos rios que formam a bacia do Taquari foram as mais afetadas em relação à produção de leite, representando cerca de 9 a 10% da produção leiteira do estado. Muitos produtores ainda tentavam se recuperar das enchentes de setembro e novembro do ano passado. Ele também ressalta que o estado tem enfrentado eventos climáticos adversos há vários anos, especialmente desde o verão de 2021, com fortes estiagens que comprometeram a produção e a qualidade da silagem de milho armazenada.

Tang também ressaltou que o contexto histórico torna a situação mais desafiadora para o produtor de leite. “O estado está enfrentando o 4° ano consecutivo de condições climáticasadversas. Após três anos de estiagem, agora lidamos com uma enchente sem precedentes. “O setor está severamente prejudicado, com grande parte dos produtores afetados e bastante abalados”.

Produtores fortemente afetados, que perderam grande parte da estrutura ou até mesmo o rebanho, podem não permanecer no setor, segundo Marcos. Essa catástrofe foi decisiva para alguns produtores encerrarem suas atividades, principalmente propriedades de porte familiar. Alguns já vinham comprando feno e pré-secado há três anos devido à estiagem. Marcos enfatiza que a decisão de sair da atividade é complexa: “Não é simplesmente deixar a atividade, há custos e investimentos dos últimos anos a serem pagos. O produtor precisa decidir entre continuar, com a necessidade de recursos para isso, ou buscar outra atividade para quitar os investimentos anteriores.” Poucos produtores têm recursos suficientes para suportar três anos de estiagem, as enchentes de 2023 e de 2024.