Saída de produtores e redução de rebanho no mercado de leite preocupam pesquisadora do IEA
14, setembro, 2023O setor de produção de leite no país apresenta em 2023 um cenário preocupante com saída de produtores, especialmente médios e pequenos, e a redução do rebanho.
Essa constatação foi feita pela pesquisadora Rosana de Oliveira Pithan e Silva, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), órgão ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Segundo a pesquisadora, o abandono da atividade e a concentração da produção, que até então ocorria basicamente na agricultura familiar, é um fator que vem crescendo no Brasil. “É uma tendência mundial, que funciona como uma estratégia que busca maior eficiência, com necessidade de escala para reduzir custos e ter rentabilidade maior”, explica.
Ainda há sinais que a concentração da atividade ocorre na propriedade com maior escala e redução de rebanho, segundo a Embrapa. Atualmente, 2% dos estabelecimentos produzem 30% do leite do país.
No estudo publicado pelo IEA, a pesquisadora aponta esse motivo como fundamental para se ter uma perspectiva do que pode ocorrer no mercado daqui para frente. Como consequência, pode-se ter condução do mercado e diminuição da concorrência, atuando conforme interesse das empresas e, muitas vezes, com restrição da oferta de produtos e preços mais altos.
“É importante frisar que esse modelo concentrador já ocorreu em vários setores do agro. Isso mostra a necessidade de políticas públicas aos médios e pequenos produtores, principalmente àqueles da agricultura familiar, como os assentados, que buscam uma atividade que dá garantia de uma renda mensal. A redução de sua participação na produção poderá, a curto e a médio prazo, tirá-los do mercado, trazendo grande problema social, que deve ser pensado antes que ocorra de fato”, alerta Rosana Pithan.
Preços – O ano de 2022 se destacou por altos preços que se intensificaram com a entrada da entressafra, o que comprometeu o consumo do produto pela população, devido a questões econômicas do país que se configuraram por um cenário de desemprego e queda de salários dos trabalhadores. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que o grupo “Leites e derivados” teve grande variação (+22,1%), diante de uma inflação de 5,8% no ano.
Os principais fatores que influenciaram diretamente os preços praticados foram: redução da produção nacional com a baixa oferta de leite cru; alta dos preços dos principais itens da alimentação do gado (milho e soja); crescente abandono da atividade (desde 2021) com consequente queda da captação de leite pela indústria, ano após ano, o fenômeno La Niña, que por três anos provocou seca intensa no Sul do país (importante região produtora do produto), afetando o pasto e ainda o solo para a produção de milho; a mudança crescente de parte do sistema produtivo do gado para confinamento, que exige maior volume de insumos alimentares; chuvas fortes na região Sudeste, que deixaram pastos extremamente úmidos; a inflação; o aumento dos preços dos combustíveis; ascensão da cotação do dólar; e o conflito entre Ucrânia e Rússia, que trouxe distúrbios no mercado internacional.
Produção – Quanto à produção de leite industrializado, houve, em 2022, uma redução de 5% em relação ao ano anterior, com quase 1 bilhão de litros a menos, o que levou à necessidade do aumento nas importações em 26,3%, especialmente da Argentina e Uruguai. “Isso representa 10% do total consumido internamente, o que é muito preocupante”, disse a pesquisadora.
A redução da produção de leite não é um fator isolado ao Brasil, mas vem ocorrendo em países como a Nova Zelândia (maior exportador de leite do mundo), que está com sua produção estagnada. Acontece o mesmo na União Europeia, e países da América Latina também têm tido crescimento pífio nos últimos anos. Apenas nos Estados Unidos tem havido aumento.
Outro ponto a ser considerado é com relação a utilização do confinamento, que tem se mostrado tendência crescente na pecuária de leite. Esse modelo leva à necessidade de maior investimento na alimentação animal, com preferência a alimentos alternativos, já que milho e soja exigiriam aumento de seu cultivo e expansão de suas produções. “É preciso investimentos na área produtiva ou, no caso do confinamento, em tecnologia para sua implantação e alcançar maior produtividade e eficiência o que, nem sempre, o pequeno produtor tem conhecimento desses tópicos por falta de assistência técnica pública e acesso a financiamentos, ou seja, há necessidade de políticas públicas efetivas para atender esses produtores, orientando-os e propondo técnicas e tecnologias acessíveis que o ajudem, aumentando a qualidade e a produtividade do leite, sem a necessidade de altos investimentos, garantindo sua sobrevivência”, finaliza Rosana.
Fonte: As informações do Governo do Estado de São Paulo.